Pesquisa aponta que população com menor renda familiar vai menos ao cinema, shows e carnaval. Programas buscam mudar realidade dos jovens da periferia.
A realidade do acesso à cultura no Distrito Federal não é muito favorável às pessoas de baixa renda, de acordo com os dados da pesquisa “Hábitos Culturais no DF: a presença da desigualdade”. O estudo, feito pelo observatório de políticas públicas ObservaDF, vinculado à Universidade de Brasília (UnB), aponta que a população com menor renda familiar vai menos ao cinema, shows e carnaval.
Alguns coletivos brasilienses tentam mudar esse cenário e promovem projetos culturais nas regiões fora do Plano Piloto. Em conversa, os coletivos Jovem de Expressão e Poesia nas Quebradas contam sobre o trabalho promovido e as consequências do acesso à cultura para quem mora na periferia da capital.
Jovem de Expressão
O projeto Jovem de Expressão existe desde 2007 e atua, em Ceilândia. O foco são os jovens da região e entorno, com idade entre 15 e 29 anos.
O grupo tem quatro pilares:
- Cultura
- Empreendedorismo
- Saúde Mental
- Educação
A partir desses pilares, o coletivo proporciona cursinho pré-vestibular, atendimento psicológico, oficinas e workshops. Segundo Rayane Soares, gestora do projeto, o objetivo é que os “jovens consigam produzir seus próprios eventos culturais e democratizar o acesso à cultura na periferia”.
“As coisas que realizamos dentro do projeto acontecem a partir das demandas dos alunos que atendemos. A primeira galeria de arte urbana de Ceilândia, que criamos em 2018, é um desses exemplos. Os alunos questionaram a falta de espaço, visibilidade e aceitação das obras, o que fez com que a gente criasse a nossa própria galeria para promover os estudantes e impulsionar outros artistas”, conta Rayane .
Além da galeria de arte, o galpão cultural, localizado na Praça do Cidadão, conta com uma sala para aulas e apresentações de dança, teatro e música. Do outro lado da praça, fica o prédio matriz, com biblioteca, um espaço com computadores, uma sala de aula, uma sala para reuniões e a parte administrativa do coletivo.
De acordo com a gestora do projeto, as iniciativas contam com um edital, que contrata os profissionais para as aulas e abre as inscrições para os alunos. Entretanto, no momento, apenas o cursinho pré-vestibular está como um programa de longa duração, já que as outras oficinas acontecem de forma pontual.
Para o Jovem de Expressão, o acesso à cultura traz inúmeros benefícios para os jovens e para a comunidade.
“O mercado cultural pede uma especialização, pois é uma área muito técnica. Então, além de apresentar a cultura para os jovens da periferia, estamos oferecendo oportunidade para que eles adentrem o mercado de trabalho e gerem renda para eles e para todo o local que vivem”, diz Rayane.
Poesia nas Quebradas
O Poesia nas Quebradas começou em 2015. O projeto atua nas periferias de Planaltina, no Distrito Federal, e promove o aprofundamento da interação entre a comunidade artística e a comunidade local a partir de ações culturais com enfoque no movimento Hip Hop e da dimensão literária.
“O Hip Hop é uma ferramenta de transformação social. É muito importante para a comunidade em geral ter uma cultura que dialogue com a juventude preta e periférica, para que essa juventude se veja representada culturalmente também”, diz Ravena Carmo, idealizadora do projeto.
O coletivo já lançou duas coletâneas de poemas com textos de autores independentes de diferentes regiões de Brasília. O primeiro livro veio de um trabalho pedagógico em uma unidade socioeducativa, enquanto o segundo recebeu textos de presos.
Além disso, o grupo atua com pesquisa, no Núcleo de Estudos, Organização e difusão de conhecimento sobre Literatura Marginal (NEOLIM); em escolas, trazendo oficinas e formações; no sistema socioeducativo e em locais de privação de liberdade; e com pessoas com deficiência.
A idealizadora e coordenadora-geral do projeto Ravena Carmo conta que, atualmente, 16 pessoas contribuem com o Poesia nas Quebradas, que luta por um espaço físico para fazer as atividades pontuais do coletivo.
Segundo ela, os projetos também procuram “cuidar da juventude periférica, para que eles não se percam nos caminhos da vida. […] Esse ano, inclusive, temos o objetivo de alcançar mais estudantes da rede pública”, aponta.
Fonte: G1 Df