A estatal adquiriu quase 2 mil bicicletas analógicas de alumínio e mais 762 bicicletas elétricas para o uso de carteiros em todo o país.
Há alguns anos, antes da internet, do e-mail e das redes sociais, as pessoas se comunicavam através de sistemas rudimentares: o telefone analógico, com fio, e as charmosas cartas. Escritas à mão, as cartas demoravam dias para chegar aos destinatários, mas eram mais populares e charmosas.
Dentro de envelopes, transportavam informações, fatos históricos, desejos, opiniões, saudade, amores e um mundo de sentimentos. Muitos casamentos iniciaram e até acabaram dentro de envelopes. A expectativa só acabava com a chegada do carteiro, que era aguardado com muita ansiedade.
Por ser o portador de tantas emoções, o carteiro sempre foi muito querido na comunidade em que trabalha. Apesar de quase não entregarem mais cartas pessoais, os carteiros hoje transportam, principalmente, boletos, correspondências oficiais e pequenos volumes adquiridos em compras online.
Para chegarem até os lugares mais remotos do país, vão a pé, de barco, de carro, moto e, desde a década de 1980, percorrem suas rotas de bicicleta.
No Distrito Federal, de acordo com os Correios, já circulam 81 bicicletas, das quais 35 são de alumínio com baú acoplado e suspensão dianteira. Até dezembro, deverão ser adquiridas mais 1.753 bicicletas de alumínio para uso dos carteiros em todo o país. A novidade é a inclusão de bikes elétricas no plano de renovação da frota. Foram adquiridas 762 e-bikes para ampliar as entregas em modais não poluentes. Até o fim de setembro, 22 unidades motorizadas chegarão para atender o brasiliense.
“Os Correios vêm atuando no desenvolvimento de bicicletas cada vez mais adequadas à realidade operacional. Ambientalmente corretas, as bicicletas melhoraram as condições de trabalho dos carteiros, representam ganho de produtividade, maior qualidade das entregas e redução de custos”, destacou, em publicação interna, o diretor de Operações dos Correios, Temístocles Júnior.
Até a chegada das e-bikes, o bikerrepórter do Jornal de Brasília, Afonso Ventania, acompanhou a rotina diária de um dos 4 mil servidores dos Correios que utilizam a bicicleta para entregar encomendas. Colaboradora da estatal há sete anos, Vilma Nogueira trabalha no Centro de Distribuição Domiciliária (CDD), no Guará. Toda orgulhosa, enfativa: “sempre de bicicleta”.
Sorridente, Vilma percorreu um itinerário de aproximadamente 10 quilômetros, no Guará I, onde entregou 40 encomendas. Entre correspondências e pacotes, ela demorou cerca de 2 horas. “Fazer as entregas de bicicletas é bem mais ágil e muito menos cansativo do que ir a pé. Além do mais, eu gosto muito aqui do Guará porque as pessoas são muito receptivas”, conta.
Pedaladas entre amigos
E como são receptivas! Todo o percurso poderia ter sido feito em menos tempo, mas a cada entrega, Vilma é festejada por porteiros e moradores. A impressão é que se está acompanhando uma celebridade. Há quem dê apenas um bom dia, um olá, mas há também quem pare para prosear e até mesmo oferecer um copo d’água e guloseimas.
“Eu parei de comer doces e, por isso, não tenho biscoitos e nem aquelas balinhas. Mas tenho bolacha de sal, você aceita?”, pergunta dona Gilda Freitas, moradora da QI 11.
Acanhada, mas acostumada com a gentileza de “suas amigas de trabalho”, Vilma aceita. Minutos depois, a dona de casa volta até o portão com um pacote de bolachas, duas maçãs e dois copos d’água. “Trouxe para o jornalista também”.
Casada e mãe de cinco filhos, Vilma se considera muito feliz com o emprego que a possibilita socializar e interagir com as pessoas. “É muito bom se sentir acolhida e sentir o reconhecimento do nosso trabalho por essas pessoas”, diz a carteira.
Enquanto as duas conversam, uma vizinha, Eugênia Nápoles, para o carro próximo a Vilma e conta que dois dos seus cachorrinhos morreram. Vilma lamenta, mas lembra que um deles gostava de avançar nela.
“Ele passava da grade para morder a minha perna”, recorda, aos risos.
Eugênia concorda: “eu tentava amenizar a situação, mas às vezes não dava. Não sei o que cachorro tem contra os carteiros”, acrescenta a motorista bem humorada. Antes de ir embora, mais uma vizinha da rua sai de casa para cumprimentar a carteira/ciclista e grita do portão para dona Gilda:
“Dando comida e água? Tá puxando muito o saco dela”, brinca de longe a moradora que também diz admirar muito o trabalho e a alegria de Vilma. Depois da “festa”, todas se despedem e Vilma segue o caminho. Não antes de falarem, em uníssono: “não suma e volte logo”.
Ainda restam algumas correspondências na bolsa azul que fica no bagageiro dianteiro de sua bicicleta. Depois de mais algumas entregas, Vilma avisa que vai passar na casa de uma moradora que já considera como amiga. Pedala por alguns minutos, estaciona em frente a uma ampla e confortável casa com portão branco e chama: “dona Regina”
Logo sai uma senhora de estatura baixa e extremamente simpática e brincalhona. Aposentada da Novacap, dona Regina Silva, recebe Vilma com muito carinho. “Os Correios precisam de gente como você. Com um coração alegre e sempre atenciosa”, elogia. As duas colocam a conversa em dia por alguns minutos e, antes de ir embora, dona Regina se aproxima de um pé de pitanga e avisa a Vilma que logo vai dar frutos para fazer geléia.
Ao perceber que o bikerrepórter não entendeu o comentário, ela explica:
“Eu faço geléia para o consumo da minha família, mas sempre ofereço para Vilma para comer com biscoito e queijo”, diz a aposentada.
“Sou muito bem tratada aqui no Guará?”, responde Vilma, emocionada.
“Quem dá amor, recebe amor. A gente não planta amor? Ela plantou, ela colhe”, conclui, sorrindo, dona Regina, justificando o gesto de gratidão pela amizade com a profissional que, segundo ela, tem trazido tantas boas notícias nos últimos anos.
E-bikes
A bicicleta elétrica funciona com um motor acoplado que multiplica a força da empregada pelo ciclista.
Com isso, há maior comodidade e menor esforço, especialmente em percursos longos e terrenos íngremes. O objetivo dos Correios, é reduzir o tempo entre as entregas e torná-las ainda mais ágeis e eficientes.
De acordo com estimativa da estatal, os 4 mil carteiros ciclistas percorrem, juntos, 67 mil quilômetros por dia, o que representa mais de 14 milhões de quilômetros por ano.
Uma opção de transporte que utiliza energia limpa, sem emissão de gases poluentes, como dióxido de carbono (CO2), a bicicleta é um dos modais de transporte mais sustentáveis. Dados dos Correios, mostram que, desde 2013, foram evitadas mais de 950 mil toneladas de CO2, decorrentes das operações postais.
Fonte: Jornal de Brasília