Governadora em exercício adotou medidas após denúncias de sucateamento. Vídeos da unidade de saúde mostram obras inacabadas, tapumes e baratas no refeitório.
A governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão (PP), determinou, nesta quinta-feira (23), a reforma imediata da cozinha e dos banheiros do Hospital de Base, na Asa Sul, em Brasília. Além disso, ela afirmou que a unidade de saúde vai passar por dedetização ainda nesta quinta.
A medida foi anunciada após diversas denúncias de funcionários e médicos sobre a infraestrutura do hospital que é referência no Centro-Oeste e o maior da capital do país. De acordo com os relatos, as condições precárias das instalações atingem os pacientes e a equipe de saúde.
Fachada do ambulatório do Hospital de Base do DF — Foto: TV Globo/Reprodução
Celina afirmou ainda que a empresa responsável pela alimentação na unidade de saúde vai procurar outro local para fazer a comida e encaminhar as refeições para o hospital.
“Nesse período, vamos reformar toda a cozinha. Obra de, no máximo, 40 dias”, disse a governadora em exercício.
Ela informou ainda que, caso a empresa não consiga outro local para produzir as refeições, a ideia é de que a comida passe a ser preparada pela rede pública, já que o Hospital de Base é responsabilidade do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (Iges).
Em nota, o Iges afirmou que tem conhecimento dos problemas, mas que parte deles, como os verificados na cozinha, são responsabilidade da empresa Salutar, que presta serviços. A empresa Salutar disse que os problemas de infraestrutura nas instalações “são fruto da falta de planejamento para realização de manutenções preventivas, aos quais são resolvidos com empresas de manutenção predial e não de alimentação”.
Quem ocupa a presidência do Iges desde maio do ano passado é Mariela Souza de Jesus. Ela á 6ª presidente do instituto, em apenas três anos. A indicação partiu de Ibaneis Rocha (MDB), governador afastado do Distrito Federal.
Funcionária anônima do Hospital de Base mostra banheiros alagados e cozinha precária
Segundo um médico do Hospital de Base, o mofo do prédio provoca problemas de saúde até nos funcionários.
“Não tem um plantão que eu vou lá que não saia com dor na garganta, tosse, rinite. E o fator desencadeante, com certeza, é aquele mofo no gesso, a umidade na parede. A gente aciona a equipe de manutenção e não adianta nada”, diz o profissional que prefere não ser identificado.
Na cozinha do hospital, vídeos mostram obras inacabadas e tapumes. No refeitório, baratas andam pelo chão e pelas paredes.
Uma funcionária que também não quer se identificar diz que os banheiros usados pelos trabalhadores estão alagados. Ela reclama do mau cheiro.
“O banheiro de lá, o feminino e o masculino, você sente o fedor de longe. E é cheio de água, dia e noite”, conta a funcionária.
Outras imagens mostram uma infiltração que tomou conta do teto do pronto-socorro. O mofo fica em cima dos pacientes, que ficam aglomerados pelos corredores da unidade de saúde, em cadeiras e macas.
Com a superlotação, a limpeza é feita entre os pacientes. Pelos corredores da ortopedia, as portas dos armários são fechadas com um saco plástico. Segundo os funcionários, a ação é para que não fiquem abrindo toda hora.
Hospital foi inaugurado por Juscelino Kubitschek
O Hospital de Base foi inaugurado em 12 de setembro de 1960 por Juscelino Kubitschek, na data de aniversário do então presidente da república.
Em 1985, o então presidente eleito Tancredo Neves foi internado no Hospital de Base, com fortes dores abdominais, um dia antes de sua posse, em 14 de março. Ele seguiu depois para o Instituto do Coração de São Paulo, onde morreu após 40 dias de internação, sem ter assumido a presidência.
Com 54 mil m² de área construída e mais de 4 mil colaboradores, o Hospital de Base é referência na rede do Sistema Único de Saúde (SUS) para atendimento em politraumas, emergências cardiovasculares, neurocirurgia, cirurgia cardiovascular, atendimento onco-hematológico (CACON II) e transplantes.
Atualmente, conta com 634 leitos, divididos nos setores abaixo:
- Pronto-socorro;
- Internação;
- Unidade de Terapia Intensiva (UTI);
- Assistência multidisciplinar;
- Serviços de apoio diagnóstico e terapêutico;
- Psiquiatria;
- Ambulatório.
Mudança de gestão
Até 11 de janeiro de 2018, o Hospital de Base era mantido pela Secretaria de Saúde do DF. No dia seguinte, passou a funcionar como instituto.
Com o novo modelo, os contratos de novos funcionários passaram a ser regidos pela CLT, diferentemente dos antigos servidores, que puderam optar por permanecer sob o regime estatutário.
Para contratar fornecedores, as regras do Instituto Hospital de Base não obedecem à Lei de Licitações. Para aquisição de materiais e a contratação de serviços, é feita uma seleção de fornecedores com regras parecidas, por meio da publicação de um ato convocatório, por exemplo, explicando o que vai ser contratado, como e por qual período. No entanto, a seleção pode ser dispensada no caso de contratos de baixo valor.
O que diz o Iges-DF sobre o sucateamento do Hospital de Base
“O IgesDF esclarece que tem conhecimento dos problemas e que a manutenção dessa área é de responsabilidade da empresa Salutar, empresa contratada para fornecer alimentação hospitalar no Hospital de Base.
Várias notificações foram enviadas à Salutar para que faça as melhorias apontadas.
A empresa requereu autorização para fazer a reforma no local, com escopo de melhorar os espaços. O Instituto está acompanhando a demanda, bem como auxiliando nas questoes que lhe compete.
Existe um plano de ação acordado com a empresa, junto ao Ministério Público, que já deveria ter sido iniciado.
O IgesDF tem cobrado da empresa as melhorias para que os trabalhadores terceirizados tenham um local apropriado para trabalhar. Inclusive com notificação ao MP.”
O que diz a empresa Salutar
“A empresa Salutar alimentação Coletiva esclarece que tem em sua responsabilidade o fornecimento de alimentação para os pacientes do Hospital de Santa Maria, Hospital de Base e as Upas.
Os problemas de infraestrutura nas instalações do Hospital de base, são fruto da falta de planejamento para realização de manutenções preventivas, aos quais são resolvidos com empresas de manutenção predial e não de alimentação.
Ainda assim em TAC firmado com o MPDFT a Salutar vem realizando melhorias na infraestrutura da cozinha, apesar da falta de colaboração do próprio IGESDF em cumprir sua parte no acordo.”
Fonte: G1 DF