Quatro deles foram presos e demais devam usar tornozeleira eletrônica. OAB diz que não vai se manifestar; g1 não conseguiu contato com defesa dos presos.
Pelo menos 12 advogados são suspeitos de envolvimento no plano de fuga de chefes de uma facção criminosa presos nas penitenciárias federais de Brasília e de Porto Velho, em Rondônia. A Justiça Federal autorizou a prisão de quatro advogadas, sendo uma do Distrito Federal (veja os nomes ao final da reportagem).
Os oito demais advogados, alvos de mandado de busca e apreensão autorizados pela 15ª Vara Federal do DF, terão que usar tornozeleira eletrônica. Além disso, o juiz federal Francisco Codevila proibiu os defensores de frequentar presídios e de manter “qualquer tipo de contato entre si”.
Procurada, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) informou que “assuntos éticos e disciplinares são de responsabilidade das seccionais e que o Conselho Federal não se pronunciará sobre o caso porque pode ser instado a se pronunciar em sede de eventuais recursos”. O g1 não conseguiu contato com a defesa dos presos.
No total, 11 mandados de prisão preventiva , além de 13 mandados de busca e apreensão foram cumpridos nesta quarta-feira (10), em Brasília, Campo Grande e Três Lagoas, em Mato Grosso do Sul; em São Paulo, Santos e Presidente Prudente, no estado de São Paulo.
Entre os alvos de busca e apreensão está Cynthia Giglioli Herbas Camacho, esposa do traficante Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola. O mandado foi cumprido em uma casa, em Alphaville, na capital paulista (vídeo acima).
Em março deste ano, Marcola foi transferido da Penitenciária Federal de Brasília , onde estava preso desde 2019 para Porto Velho.
Quem são os advogados presos
- PATRÍCIA LAIANE DA CONCEIÇÃO SALES, advogada no DF
Segundo as investigações, Patrícia está envolvida no planejamento do resgate dos líderes da facção, com conversas cifradas realizadas nos parlatórios com os presos. Além disso, ela é suspeita de realizar presencialmente o levantamento de dados do entorno da Penitenciária Federal de Brasília por meio de registro de vídeo, para viabilizar o plano de fuga dos detidos.
- JULIANA DE ARAUJO ALONSO MIRANDOLA, advogada em SP
Segundo a PF, Juliana é irmã da advogada Simone de Araújo Alonso Barbará e cunhada de Cláudio Barbará, integrante da facção criminosa. Ela foi cadastrada como advogada de Edmar dos Santos, conhecido como “Quirino”. Segundo a Justiça, Juliana já foi presa em outra operação e é suspeita de participar do plano de resgate dos presos.
- SIMONE DE ARAUJO ALONSO BARBARÁ, advogada em SP
Simone é esposa e advogada do preso Cláudio Barbará Silva, o “Barbará”. Conforme a polícia, “Simone não apenas contribui com a organização criminosa por meio de transmissão de recados, mas atua também na alocação de recursos financeiros da organização criminosa (orcrim)”.
- KASSIA REGINA BRIANEZ TRULHA DE ASSIS, advogada em MS
De acordo com as investigações, a advogada Kássia ouvia presos da facção na “ordem correta”, dentro dos presídios, para que as mensagens pudessem ser compreendidas e repassadas a Devanir de Lima Moreira, um dos chefes da facção que está foragido e é apontado como um dos principais responsáveis pela elaboração do plano de fuga dos detentos. Segundo a PF, Kássia comunicou-se com Devanir pelo menos três vezes, por intermédio de um sobrinho. Em um desses encontros, ela pegou um telefone celular com chip boliviano e o repassou para a advogada Patrícia Laiane da Conceição Sales, em Brasília, para que, segundo a PF, “fosse utilizado exclusivamente a fim de tratar desse plano criminoso”.
Presos que seriam beneficiados
- Marco Willians Herbas Camacho
- Claudio Barbará da Silva
- Reinaldo Teixeira dos Santos
- Edmar dos Santos
- Valdeci Alves dos Santos
- Esdras Augusto do Nascimento Júnior
Os seis condenados estão presos em penitenciárias federais e seriam os principais beneficiados do plano de resgate, além de serem os principais articuladores da execução da fuga. Segundo a Polícia Federal, eles transmitiam códigos para os advogados que os visitavam no parlatório, “em conversas desconexas e que não tratam exclusivamente de conteúdo jurídico para elaboração de teses e estratégias de defesa”.
- Devanir de Lima Moreira
As investigações da PF apontam que Devanir é um dos principais líderes da facção que se encontra “na rua”, ou seja, não está preso, e é apontado como um dos responsáveis por elaborar o plano de fuga dos custodiados e execução do resgate. Ele encontra-se foragido da Justiça desde o ano de 2017, com mandado de prisão em aberto, expedido pela 2ª Vara Criminal de São José do Rio Preto (SP) havendo informações de que está atualmente na Bolívia.
‘Sequestros e homicídios’
Segundo o inquérito, os chefes da facção criminosa se comunicavam com os advogados durante as visitas no parlatório por meio de códigos, com “conversas desconexas e que não tratam exclusivamente de conteúdo jurídico para elaboração de teses e estratégias de defesa processual”.
As investigações apontam que os integrantes da organização criminosa “têm se utilizado de advogados para receberem e mandarem mensagens codificadas” dos integrantes organização criminosa que estão presos na Penitenciária Federal em Brasília e “para os comparsas em liberdade (e vice-versa), extrapolado, assim, os limites da profissão de advogado”.
Em um dos diálogos, a Polícia Federal identificou, por meio de escuta ambiental, que o andamento do plano de resgate dos presos, “no que depender dos advogados estava 95% resolvido”. Ou seja, que estava “próximo” a ser executado.
Caso o plano não desse certo, integrantes do grupo mencionavam a possiblidade de sequestrar autoridades do Sistema Penitenciário Federal ou seus familiares, “com ordens, inclusive, para a prática de homicídios”.
Na decisão para o cumprimento dos mandados de busca e apreensão e de prisão preventiva, o juiz federal Francisco Codevila disse que as medidas foram necessárias para garantia da ordem pública.
“Nesta toada, é preciso consignar que não se está aqui criminalizando a atividade profissional dos advogados. Evidentemente que não é pelo fato de prestar algum tipo de assessoria/consultoria ou de realizar atos de natureza profissional em favor dos membros [da facção] que, por si só, justificaria a medida em comento, mas sim pela utilização do importante papel da advocacia como subterfúgio para a prática ilícita”, diz o juiz.
Fonte: G1 DF