Em meio a uma queda histórica na aprovação doméstica e crescente isolamento global, Donald Trump declarou à revista The Atlantic que está “governando o país e o mundo” em seu segundo mandato. A afirmação, feita às vésperas de completar 100 dias de gestão, contrasta com pesquisas que apontam apenas 39% de aprovação — a mais baixa para um presidente norte-americano em oito décadas 1113. Enquanto Trump celebra seu estilo “agressivo”, analistas alertam para riscos à democracia e à estabilidade internacional.

Crise Doméstica: Rejeição Recorde e Turbulência Econômica
- Aprovação em Queda Livre: Pesquisas do Washington Post, ABC News e Ipsos revelam que 55% dos americanos desaprovam a gestão Trump, com críticas concentradas na economia. 73% avaliam a situação econômica como ruim, e 71% atribuem às tarifas globais do governo a piora da inflação.
- Confronto com o Judiciário: Trump enfrenta 120 bloqueios judiciais contra suas políticas, incluindo deportações em massa e tarifas consideradas inconstitucionais. Sua decisão de perdoar apoiadores do ataque ao Capitólio em 2021 intensificou críticas sobre autoritarismo.
- Impacto nas Eleições de 2026: O Partido Democrata ganha força com plataformas progressistas, enquanto a base republicana se fragmenta entre leais a Trump e críticos de suas medidas econômicas.
Isolamento Global e Guerra Comercial
- Ruptura com Aliados: Tarifas de até 25% sobre Canadá, México e UE geraram retaliações e fortaleceram líderes como Emmanuel Macron (França) e Claudia Sheinbaum (México), cuja aprovação subiu para 80%.
- Falhas Geopolíticas: Planos para Gaza e Ucrânia estão paralisados, e a aproximação com Rússia e bilionários da tecnologia (como Zuckerberg e Bezos) é vista como contraditória com o discurso “America First”.
- Efeito Bumerangue: A política tarifária, aprovada por apenas 36% dos americanos, é considerada um risco por 55% da população, que teme guerras comerciais e aumento de preços.
Análise de Especialistas: Autoritarismo e Paralelos com a América Latina
Steven Levitsky, autor de Como as Democracias Morrem, compara Trump a líderes latino-americanos como Hugo Chávez e Alberto Fujimori, destacando a erosão de instituições e a personalização do Partido Republicano. Para ele, os EUA vivem um “regime híbrido autoritário competitivo”, com riscos de colapso democrático.
- Estratégia de Caos: Trump emitiu 220 ordens executivas em 100 dias, priorizando deportações, tarifas e guerras culturais, enquanto ignora alertas sobre inflação e desestabiliza mercados 8.
- Legado de Polarização: A rejeição a Trump ultrapassa 53%, tornando-o o “candidato de oposição mais rejeitado da história”, segundo Mauricio Moura, da Universidade George Washington.
A retórica de Trump como “governante do mundo” esconde uma realidade de fragilidade interna e desconfiança global. Enquanto o presidente insiste em medidas protecionistas e confrontos institucionais, a combinação de crise econômica, isolamento diplomático e ataques à democracia ameaça redefinir o papel dos EUA no cenário internacional. Como alertou Levitsky, “estamos diante do maior ataque às instituições democráticas na história moderna” 5. O desafio, agora, é saber se a resistência judicial e a mobilização civil conseguirão frear uma agenda que, para muitos, já ultrapassou os limites da Constituição.