Diálogos interceptados pela Polícia Federal (PF) revelam que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, desempenhou um papel ativo na manutenção de acampamentos golpistas em frente a quartéis do Exército após as eleições de 2022. Esses acampamentos reuniam manifestantes que pediam intervenção militar contra o resultado eleitoral.
Em 15 de dezembro de 2022, Cid recebeu uma mensagem de um tenente do Exército informando sobre uma possível operação da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) para desmobilizar manifestantes em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília. Cid questionou se a ação seria da PMDF ou da Polícia Federal, recebendo a confirmação de que seria da PMDF.
Em outra ocasião, em 19 de novembro de 2022, um tenente-coronel de Caxias do Sul (RS) consultou Cid sobre uma recomendação do Ministério Público Federal (MPF) para desmontar o acampamento local. Cid orientou que a recomendação fosse ignorada, afirmando em mensagem de áudio: “Tá recomendado… manda se foder! Recomenda… está recomendado. Obrigado pela recomendação… Eles não podem multar. Eles não podem prender. Eles não podem fazer porra nenhuma. Só vão encher o saco, mas não vão fazer nada, não”.
Essas mensagens, recuperadas do celular de Cid apreendido pela PF, indicam que ele servia como elo entre os manifestantes e o Palácio do Planalto, contribuindo para a manutenção dos acampamentos que culminaram nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.
Além disso, diálogos entre Cid e Aparecido Portela, amigo próximo de Bolsonaro, mostram que até o final de dezembro de 2022 havia articulações golpistas em andamento. Em uma das conversas, Portela pergunta: “O pessoal que colaborou com a carne está perguntando se ainda vai ter churrasco”, referindo-se à tentativa de golpe. Cid responde: “Vai, sim! Ponto de honra. Nada está acabado ainda de nossa parte”.
Em 31 de dezembro de 2022, já a caminho dos Estados Unidos com Bolsonaro, Cid enviou mensagem a Portela afirmando: “O PR (presidente) estava com a decisão mais importante da nossa história. A guerra ainda não acabou”.
Essas evidências reforçam a participação de Cid nas articulações golpistas e indicam que Bolsonaro estava ciente das estratégias para uma possível ruptura institucional.
Recentemente, em entrevista, Bolsonaro sugeriu a necessidade de anistia para os envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023, comparando a situação à anistia de 1979. Ele afirmou: “Para nós pacificarmos o Brasil, alguém tem de ceder. Quem tem de ceder? E o senhor Alexandre de Moraes. Anistia. Em 1979, eu não era deputado, foi anistiada gente que matou, que soltou bomba, que sequestrou, que roubou, que sequestrou avião. Vamos pacificar, zera o jogo daqui para frente”.
Essas revelações destacam a complexidade das articulações golpistas e o papel de figuras-chave na manutenção dos acampamentos que antecederam os atos antidemocráticos de janeiro de 2023.