O governo dos Estados Unidos desmentiu publicamente o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) sobre os objetivos da visita de David Gamble, coordenador de sanções do Departamento de Estado, ao Brasil. Enquanto o bolsonarista alegou que a missão trataria de medidas contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, a embaixada norte-americana esclareceu que o foco é fortalecer a cooperação bilateral no combate ao crime organizado. O episódio expõe a estratégia de Eduardo de alinhar narrativas internacionais ao bolsonarismo, mesmo com riscos de isolamento político.

A Contradição entre Narrativas
Eduardo Bolsonaro divulgou em redes sociais que Gamble viria ao Brasil para discutir sanções contra autoridades brasileiras, incluindo Moraes, sob alegação de perseguição política. No entanto, a embaixada dos EUA emitiu nota oficial destacando que a agenda da delegação inclui apenas temas como tráfico de drogas, terrorismo e ações contra organizações criminosas transnacionais, como o PCC. O governo brasileiro confirmou que a visita foi articulada bilateralmente e integra acordos assinados em abril de 2025 para troca de informações entre polícias.
Contexto da Viagem e Interesses de Eduardo
A ida de Gamble ocorre após operações conjuntas, como a prisão de 18 brasileiros nos EUA ligados ao PCC, e reforça laços estabelecidos desde março, quando ministros brasileiros visitaram Washington . Apesar disso, Eduardo tentou capitalizar a visita para promover sua narrativa de “perseguição judicial” no Brasil, buscando apoio de setores radicais do trumpismo. Analistas apontam que o deputado licenciado atua como “embaixador informal” do bolsonarismo nos EUA, articulando-se com figuras como Steve Bannon para pressionar por sanções contra o STF.
Repercussões Políticas
- Fragilização do PL: A ausência de Eduardo no Brasil, desde março de 2025, gerou críticas até mesmo dentro do Partido Liberal (PL), que teme perder espaço para outras lideranças de direita, como Ricardo Salles (Novo-SP), nas eleições de 2026.
- Agenda com Bolsonaro: Apesar da negação inicial, a delegação norte-americana visitou Jair Bolsonaro em Brasília, em encontro intermediado por Flávio Bolsonaro. Fontes indicam que temas como liberdade de expressão e regulamentação de redes sociais foram discutidos, mas sem menção a sanções.
- Plano B: Especialistas sugerem que Eduardo também busca assegurar asilo político para a família Bolsonaro caso o ex-presidente seja condenado no STF, abrindo empresas e contatos nos EUA como precaução.
O desmentido do governo Trump evidencia o abismo entre a retórica de Eduardo Bolsonaro e a realidade diplomática. Enquanto o bolsonarismo tenta projetar uma imagem de perseguição internacional, a agenda oficial prioriza cooperação técnica — um contraste que enfraquece a credibilidade do deputado licenciado. A estratégia de Eduardo, embora alimentada por elogios públicos de Trump à família Bolsonaro 5, enfrenta desafios tanto no Congresso brasileiro, onde projetos como a anistia aos envolvidos no 8 de janeiro perdem força 3, quanto na diplomacia, que busca evitar conflitos com os EUA.
O episódio reforça a percepção de que o bolsonarismo opera em duas frentes: uma de confronto interno e outra de submissão simbólica a potências estrangeiras. Como resume Beto Vasques, analista político, “Eduardo é um filho pomada: útil para o uso externo, mas com impacto questionável no Brasil”. Resta saber se essa tática sobreviverá às pressões judiciais e ao desgaste eleitoral até 2026.