Em meio a uma escalada de tensões comerciais, a China cobrou nesta quarta-feira (16/04) que os Estados Unidos abandonem “ameaças e chantagens” para viabilizar negociações. A resposta veio após a Casa Branca transferir a responsabilidade de um acordo para Pequim, afirmando que “a bola está no campo chinês”. O impasse, que já dura semanas, ameaça impactar a economia global e reacende o temor de uma recessão .

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, declarou que o país “não quer uma briga, mas também não teme uma”, reforçando a disposição de reagir a medidas unilaterais dos EUA. A fala foi uma resposta direta à afirmação de Donald Trump, que, por meio de sua porta-voz Karoline Leavitt, negou a necessidade de um acordo imediato: “A China é quem precisa chegar a um entendimento conosco” .
A guerra tarifária, iniciada pelos EUA em abril, atingiu níveis sem precedentes:
- Tarifas americanas sobre produtos chineses chegam a 245%, com exceção de eletrônicos como smartphones e laptops, setores em que a China domina a produção global 17.
- Retaliação chinesa impôs taxas de 125% sobre importações dos EUA, além de suspender entregas de aviões da Boeing e restringir licenças para exportadores de carne bovina americana 47.
Apesar do cenário hostil, a economia chinesa surpreendeu com crescimento de 5,4% no primeiro trimestre, superando expectativas. Sheng Laiyun, do Escritório Nacional de Estatísticas, admitiu “pressões externas”, mas destacou resiliência 79.
EUA mantêm postura intransigente
Trump ampliou as tarifas após acusar a China de desequilíbrios comerciais e facilitar a entrada de fentanil nos EUA. A estratégia incluiu medidas setoriais, como taxação de aço, alumínio e automóveis, além de estudos para incluir semicondutores e produtos farmacêuticos 47. Apesar de isentar temporariamente aliados como Japão e União Europeia, a política gerou críticas globais. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, afirmou que o bloco está “em posição de força” para negociar 7.
Impactos globais e risco de recessão
Os mercados asiáticos registraram quedas históricas, com a bolsa de Hong Kong tendo o pior desempenho desde 1997. Commodities como petróleo e cobre também caíram, refletindo o temor de desaceleração econômica 9. Analistas projetam 50% de chance de recessão nos EUA e efeitos em cadeia, já que as duas economias respondem por quase metade da produção global de bens 9.
O impasse entre as potências comerciais expõe a fragilidade do multilateralismo e a ascensão de políticas protecionistas. Enquanto a China insiste em diálogo “baseado em igualdade e respeito”, os EUA apostam em pressão máxima, ampliando incertezas. Como alertou Erik Hirsch, da Hamilton Lane, “os mercados estão processando o medo, não a realidade” 9. O desfecho dependerá de qual lado cederá primeiro — ou se o mundo pagará o preço de uma guerra sem vencedores.